sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ÁGUAS E PEDRAS

É conhecido que as nascentes de água são, desde tempos imemoriais, lugares de culto e os antigos celtas deixaram-nos vários testemunhos disso, que poderemos verificar através de dados históricos. Esta atitude é algo muito comum em muitos povos indo-europeus, e são conhecidas grandes quantidades de poços e nascentes ao longo de toda a Europa, muito especialmente nos países considerados célticos, conforme encontramos referido em Jons e Pennick. Somente na Irlanda foram catalogadas 3.000 poços sagrados, na Inglaterra centenas e no País de Gales 1.170, tendo-se encontrado em 200 lugares, capelas cristãs construídas ao lado dos poços que eram pagãos. Este processo de cristianização, o aproveitamento da religião antiga para levarem as suas demolidoras ideias avante, é comum em muitos pontos do globo e em épocas várias.
Havia certas nascentes que eram consideradas pelos antigos celtas, como o limiar do Outro Mundo, ou mesmo a entrada para ele. Esta entrada também se podia encontrar num Sidh que é um lugar por baixo de uma colina, um castro ou um monumento megalítico.
Esta adoração de lugares de água é notável na tradição celta e verifica-se, ainda hoje, tanto na Galiza como no Norte de Portugal, que continua a ser Galécia, no caso das fontes e nascentes sagradas e cristianizadas, algo que encontramos em Blazquez Martinez e no Prof. Leite de Vasconcelos, consideradas benéficas em todos os sentidos e, em muitos casos, na maior parte, penso eu, aqui encontramos construídas capelas dos cristãos, onde se evoca um santo ou uma santa de forma absolutamente pagã.
No Noroeste peninsular também os rios eram profundamente reverenciados, sendo disso exemplo o rio Lima que se considera com propriedades mágicas, e o Tâmega frente ao qual os lavradores têm por costume sacrificar um galo cujo corpo, depois de morto, é lançado às águas a fim de lhe pedirem protecção nos anos de grandes chuvas e inundações.
Também o mar era tido como sagrado para muitos indo-europeus e , entre eles os celtas. Em Lanzada, Galiza, na Póvoa do Varzim e em muitas praias portuguesas, continua a existir o ritual do banho das nove ondas. Estes banhos também são usados para as mulheres que têm problemas para engravidar, e tem claros paralelos no mundo céltico irlandês, onde o número nove possui grandes poderes, por ser mágico. Pode-se verificar isto em vários relatos, como por exemplo este, muito antigo onde se narra como os tripulantes de um barco tentaram passar a nona onda, para deixarem para trás a costa, pois passando esta barreira mágica ficariam livres de ser contagiados por uma peste mortal que se tinha espalhado pela ilha; e ainda outra narrativa que relata que quando Morfhind, em bébé, foi lançado ao mar, saiu para a superfície ao passar a nona onda e disse nove palavras que foram nove sentenças a partir dali; no Leabhar Gabhála, o chamado Livro das Invasões, no tempo em que os celtas se viram confrontados com os Três Reis de Tuatha Dé Dannan, Mac Cuill, Mac Cecht e Mac Grein, aceitaram a sentença que o Druida Ameirgin proferiu, e retiraram-se para o mar até ser alcançada a distância de nove ondas. A grande importância do número nove no Noroeste da Península Ibérica é comum. Em toda a Galiza o nove é considerado propício e favorável, e a crença de nona onda já esteve espalhada por todo o seu território e, evidentemente, pelo Norte de Portugal.
As pedras são outro grande motivo de adoração. A existência de um forte culto destas entre os indo-europeus, é mais que conhecido. As pedras, certas pedras, eram consideradas mágicas, e este facto era muito marcante nas populações celtas irlandesas, que as utilizavam em actos mágicos ou religiosos para proteger a população contra qualquer tipo de doenças.
Há, na Cornualha, uma pedra famosa, conhecida por Logan Stone, que balança e possui propriedades mágicas, como, por exemplo, conceder aquilo que lhe era pedido, desde momento que a conseguissem fazer mover.
Esta pedra tem paralelo na Galiza, em Muxia, chamam-lhe Pedra de Abalar, e em Portugal, onde há algumas e têm o nome de Pedras Bolideiras. Uma delas, a que se pode ver na fotografia e em cima da qual estou com o meu sobrinho Nuno Teixeira da Mota, encontra-se próximo de Santa Valha, Valpaços, e está junto de um antigo altar.
Na localidade de Lanyon, na Cornualha, a duas milhas de Penzance, há uma grande pedra furada que é conhecida por Men-an-Tol, e por cujo buraco era costume passar-se com a finalidade de se curar o reumatismo e o raquitismo, bem como outras doenças. Na Irlanda, como no Portugal do Norte, acreditam que atravessar uma pedra furada provoca uma purificação do corpo e da alma, ficando a pessoa defendida contar a má sorte e doenças; na Breatanha céltica usam estas pedras como cura contra a infertilidade. Na Galiza os peregrinos e os visitantes atravessam a Pedra dos Cadís, em Muxia, para se curarem da mesma doença.

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