segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SUZY SOLIDOR

Man Ray

A notícia que apareceu na imprensa diária rezava, mais ou menos assim: "A 30 de Março de 1983 morreu às 20:30, em Haut-de-Cagnes, Cagnes-sur-Mer, Suzanne Rocher, conhecida como Suzy Solidor, cantora de cabaret e diva dos anos 1930. Descendente do corsário Surcouf, pelo lado do pai, Suzanne Rocher nasceu no lugar de La Pie, perto do burgo de Saint-Servan, Ille-et-Vilaine, perto de Saint Malo, a 18 de Dezembro de 1900. Suzy Solidor é o protótipo de «la garçonne» e o símbolo da emancipação encarnada."

Esta pequena homenagem era, evidentemente, para ser feita no dia 30 de Março, mas como hoje me apareceram as fotos, decidi avançar.
Quando eu, pelos anos de 1969 frequentava a casa de Carlos Carneiro, um grande aguarelista do nosso país, de quem fui amigo até à sua morte, das coisas que mais me fascinavam, eram as histórias que o Carlos contava dos seus tempos de Paris. Nessas narrativas das viagens que fazia com o seu amigo Abreu, aparecia, com certa saudade, o nome de Suzy Solidor. A Solidor.
Filha de mãe solteira, Louise Marie Adeline Marion de 28 anos, foi baptizada com o nome de Suzanne Louise Vlarie Marion, nome este que veio a mudar quando a mãe contraiu casamento com Eugène Prudent Rocher, para Suzy Rocher.
Já entrado o ano de 1920, vai para Paris e, mais uma vez ,muda o seu nome para Suzy Solidor, nome que vai buscar a um lugar de Saint-Sevan, onde viveu.


Vandongen

Foi uma importante modelo de alta costura e, em 1930, abriu na Cidade da Luz, um nightclub, muito chic, com o nome de La Vie Parisienne. Toda a gente passou pelas sua salas, desde escritores, pintores , escultores, enfim o supra sumo, melhor dizendo la crème de la crème, da sociedade da capital francesa.
Considerava-se "a mulher mais pintada do mundo", pois posou para os grandes pintores do seu tempo, como Picasso, Braque, Dufy, Carlos Carneiro,




Com Jean Cocteau em Paris

Marie Laurencin, Picabia, Van Dongen, etc. Exigia-lhes, para posar para eles, que os quadros ficassem pendurados nas paredes do seu club. La Vie Parisienne era já um dos mais famosos lugares de Paris, quando aparece a grande pintora Tamara Lempicka, que é apresentada à Solidor. Desde esse momento desenvolve-se entre as duas uma amizade grande, que mais tarde se veio a transformar numa paixão que, segundo o Carlos era um pouco tempestuosa.
Tamara Lempicka

A Lempicka, quando Suzy lhe falou para que a pintasse, como tantos outros tinham feito, decidiu pôr uma condição. Sim senhora, pintaria, mas toda nua. O retrato ficou pronto em 1933.


Malta

Durante a ocupação alemã, como tantos outros lugares de Paris e da França, muito conhecidos e mesmo famosos, foram "ocupados" pelos oficiais alemães, que ali se iam divertir à noite. Por essa altura em 1941, gravou a sua "Lily Marleen", que foi um sucesso tão grande, que a Marlene Dietrich teve uma fúria. Tinha a letra em francês. Depois da guerra, há que afirme que injustamente, foi culpada de colaboriacionismo, pela Épuration Légale.

Fujita

Segundo li, escreveu-se muitíssimo sobre ela, muito em relação à sua homosexualidade, à sua beleza escultural e a forma pouco conservadora como a mostrava, as suas numerosas conquistas amorosas, a vida um pouco turbulenta e o número de pintores que lhe ofereceram o seu traço para a desenharem e pintarem. Por estas obras podemos dar-nos conta da personalidade desta mulher, hoje esquecida, que tanto imperou em Paris.
A cinquenta ou sessenta anos de distância, é muito difícil fazer-se uma ideia de Suzy Solidor, através das fotografias, das gravações, dos pedaços de film que ela nos deixou.

Picabia

Os seus cabelos eram dourados, ancas largas, ombros de nadadora, o seu modo de olhar - é interessante que olha sempre de lado nunca fixando a câmara de frente - são marca da sua época. Tinha uma forma de dizer - aujourd'hui - com um sotaque snob, usava uns processos para despachar aqueles que a queriam entrevistar, que ficaram conhecidos e tudo isto era mais que suficiente para conhecermos a personalidade da pessoa em causa, e da sua forma de abordar a vida. São , porém, apontamentos anedóticos. Se se cavar um pouco, no interior desta mulher, acabamos por compreender que por baixo deste exterior, que ela deixa transparecer, existe frieza e uma dor que não se pode exprimir. Há um clip dos anos 50 ou 60, que nos permite conhecer mais de Suzy, que todas as telas, fotografias, canções ou filmes que possamos ver.

Eisenschitz

Quando era pequena e cantava no coro da igreja da terra, o cura costumava dizer que havia um rapaz no lado das raparigas, referindo-se à sua voz com notas quase guturais, que ela nos deixou em numerosas gravações de canções. Era uma voz de bares de marinheiros, que parece vir dum lugar desconhecido, a que fez dela uma grande interprete.

Carlos Carneiro

O seu Lily Marleen, cantado em Francês, ficou inesquecível e, segundo o Carlos Carneiro, ao ouvi-la a Dietrich teve uma fúria, como já tinha contado, e começou-se então a falar de colaboracionismo...Pode-se, hoje, criticar o seu reportório composto por tangos e rumbas, valsas - ela dizia-se uma diseuse, não cantora - mas se esquecer-mos o antiquado, os arranjos da época, não podemos deixar de ficar admirados perante a cantora que conseguiu fazer transcender tudo em que tocava...

Nota: Há algum material mo youtub

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