terça-feira, 3 de maio de 2011

MUDAM-SE OS TEMPOS...




Encontrei uma notícia engraçada que mostra bem que a vontade do homem está é mais inconstante que as ondas do mar.


O regedor da alcaidaria de Madrid, Tadeo Bravo de Rivero, encomendou ao seu grande amigo Francisco Goya um quadro onde teria de aparecer o recém feito rei de Espanha, José Bonaparte. Era o ano de 1809.


Goya aceitou de imediato a encomenda que lhe iria render, nada mais, nada menos, que 15.000 reais, ou seja, uma grande quantia. O mestre decidiu pintar neste quadro um vínculo que unisse a figura do monarca com a corte e a capital do reino. O título que foi dado a esta obra foi "Alegoria da Cidade de Madrid", algo muito em uso nesta época.


Nesta pintura podemos ver representada uma mulher, tendo ao lado da sua mão esquerda um escudo da corte e da cidade de Madrid, onde se representava o madronheiro e o urso, e que com a direita assinala uma oval onde está representado o irmão de Napoleão, José. José I de España, como o fez o imperador...


A vida foi decorrendo, com pouca tranquilidade, para o invasor diga-se, e em 1812, o rei abandonou a capital, temporariamente...e então as autoridades do município decidiram retirar o retrato do usurpador e colocar a palavra "Constituição", constituição a que se chamou "La Pepa", e que tinha sido recentemente aprovada pelas cortes.


Mas uns meses depois, o títere regressou à capital e Goya teve de o voltar a pintar no lugar onde, anteriormente tinha estado, a oval. Na verdade, o genial pintor, detestava estar constantemente a modificar e refazer as suas obras, contudo tinha feito um juramento de fidelidade ao rei, quando foi nomeado Primeiro Pintor de Câmara e, por tanto, não tinha outro remédio senão comprazer o pedido, que seria mais ordem...


Como se sabe, chegou a bendita hora do reisote abandonar definitivamente a España, no ano de 1813 e, nessa ocasião, voltou-se a olhar o quadro com outros olhos e, mais uma vês, retirar o José e colocar a palavra "Constituição". Assim se fez.


Em 1814, o Rei absolutista Fernando VII, que tinha sido deposto, regressou ao trono espanhol e aboliu "La Pepa", a Constituição de Cadiz, havendo necessidade de retirar a palavra da oval. No seu lugar foi pintado o retrato do Rei reinante.


Até 1843, este esplêndido quadro, permaneceu nesta última forma, mas neste mesmo ano decidiu-se retirar o retrato do rei absolutista que tinha morrido em 1833, e voltar a colocar a "Constituição" que estava em vigência desde 1836, depois de estabelecido o liberalismo. Mas esta tarefa já não coube, felizmente, ao génio de Aragão, que tinha morrido em 1828.


Contudo não havia de parar por aqui a «movida» desta pintura madrilena e, em 1872, o marquês do Sardoal, Ángel Carvajal Fernández de Córdoba, que tinha sido nomeado há pouco tempo Alcaide de Madrid decidiu que se apagasse o dístico da oval e que ali deviam figurar as palavras "Dos deMayo", por ser um acontecimento genérico que "no estaba sujeto a las opiniones cambiantes de los hombres".


E assim termina a historias das andanças das políticas e mudanças do óleo do grande Francisco Goya.




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